"Quero Viver de Bolsa"
Por Rafael Pacheco
05 de março de 2009
Algumas pessoas me mandaram e-mails fazendo um questionamento similar. A coluna de hoje é dedicada a estes leitores. Tenho tranquilidade para falar sobre este assunto, porque tomei uma decisão nesse sentido recentemente. Perdoem-me antecipadamente pela extensão do texto, mas é o que o assunto requer.
Mesmo antes da "crise", viver de bolsa já era um desejo de muitos: não ter chefe, fazer o seu próprio horário, trabalhar em casa, depender exclusivamente da sua competência, enfim. São muitos os prós. Com a deterioração recente do nível de emprego - mesmo entre profissionais qualificados -, alguns investidores de "fim de dia" ou de "fim de semana", que já acompanham o mercado há algum tempo e tem algum conhecimento e alguma experiência, tem se questionado - e me questionado - sobre a possibilidade de deixar seus empregos ou vender seus negócios e se dedicar exclusivamente ao mercado, dado o cenário econômico sombrio que se apresenta. Pois bem, vou humildemente mostrar o que eu entendo ser o caminho das pedras.
Tem gente gabaritada no mercado que afirma, categoricamente, que "quem tenta viver de bolsa, acaba vivendo para a bolsa". Eu complementaria: "e quebrando". Essa afirmação, embora não seja uma verdade absoluta, tem o seu mérito e deve servir de alerta: a empreitada não é fácil, não é para qualquer um e as probabilidades estão pesadamente contra você. Não tenho conhecimento da existência de estatísticas sobre o assunto, mas a maioria esmagadora das pessoas que tentam essa jornada deve fracassar. Portanto, tenha consciência da dificuldade que lhe aguarda, e saiba que o seu maior inimigo será você mesmo, pois o grande desafio será emocional. O alerta está dado.
O sucesso na bolsa, na minha opinião, tem quatro pilares: técnica, disciplina, estratégia e dinheiro. Técnica e disciplina, quem não tem pode desenvolver. Dinheiro já é outro papo. E o fator dinheiro terá um impacto fundamental na formulação da estratégia, que talvez seja o mais importante dentre estes quatro pilares. Antes de entrar nestas questões, quero falar antes sobre a transição, que deve ser muito bem planejada pra quem pretende deixar o seu emprego ou vender o seu negócio para "viver de bolsa".
Uma transição bem planejada é fundamental pra aliviar a carga emocional no período inicial da empreitada. Se deixar o emprego achando que no próximo mês já terá que "sacar o salário da bolsa", a pressão será enorme e então as chances que já eram pequenas vão tender a zero. Pense num período de seis meses a um ano de transição. Reserve um capital que mantenha o seu padrão de vida por esse período. Assuma que não vá tirar um centavo sequer do mercado neste período. Melhor, assuma que vai perder no início. Se ficar no 0x0, já será um excelente resultado. Por último, pense que essa empreitada é apenas uma tentativa, e que o mundo não acabará se você fracassar. Se você chegou ao ponto de poder se dar ao luxo de tentar, é sinal que você tem uma vida profissional bem sucedida e nada impede que você volte a ela, caso as coisas não saiam como planejado. Todas estas recomendações são no sentido de aliviar a carga emocional. É fundamental que se receba os prejuízos iniciais, se for o caso, com tranquilidade e serenidade. O importante no início é operar com consciência, sabendo por que comprou e por que vendeu. Assim você poderá aprender com os erros e acertos, criando uma retroalimentação fundamental para o processo de aprendizado.
Vamos à técnica: se você não for um autodidata, pare de ler e desista. Os cursos disponíveis no mercado são bons, mas serão só um impulso pra acelerar a fase inicial do aprendizado. Faça alguns, vai economizar bastante tempo e dinheiro. Nos cursos você terá o básico. O resto terá que aprender por conta própria. Onde? Nos livros. Listo abaixo alguns dos mais importantes. Leia todos. Leia diariamente. Estude sempre. A ordem da listagem é a que eu sugiro para a leitura.
Vencendo o Mercado - Ações e Opções - Dr. Elson Rodrigues (Tainha) (Leitura Obrigatória!)
Como se Transformar em um Operador e Investidor de Sucesso - Alexander Elder
O Guia Prático: Como se Transformar em um Operador e Investidor - Alexander Elder
Comprar ou Vender ? - Como Investir na Bolsa Utilizando Análise Gráfica - 6ª Ed. 2007 - Eduardo Matsura
Operando na Bolsa de Valores Utilizando Análise Técnica - Joseilton S. Correia
Análise Técnica de Ações - Carlos Alberto Debastiani
Candlestick - Carlos Alberto Debastiani
Investindo em Opções - Como Aumentar seu Capital Operando com Segurança - Mauricio Bastter Hissa
Bollinger on Bollinger Bands by John A. Bollinger
Japanese Candlestick Charting Techniques, Second Edition by Steve Nison
Stock Patterns for Day Trading by Barry Rudd
Technical Analysis of the Financial Markets: A Comprehensive Guide to Trading Methods and Applications (New York Institute of Finance) by John J. Murphy
Disciplina é fundamental. Nunca é demais repetir. Quando você estiver operando, a irracionalidade fará todo o possível para dominá-lo. Você vai comprar sem saber porque está comprando, vai vender num arroubo de pânico, e assim por diante. Quando estiver ganhando, vai querer garantir o lucro. Quando estiver perdendo, vai querer dobrar a aposta. Tudo ao contrário do que você deveria fazer para ser bem sucedido. Portanto, proteja-se de você mesmo: crie regras (setups) de entrada e de saída. Tenha um sistema de controle de risco que lhe informe o valor máximo que você pode arriscar num trade. Tenha um limite de perdas (por exemplo, 5% sobre o capital total em um mês) que lhe obrigue a parar de operar, tirar uma semana de férias e retornar ao mercado, de preferência operando somente de modo virtual até que os resultados voltem a ser positivos. Tenha uma rotina de trabalho (sim, você continuará trabalhando!) e um lugar tranquilo e organizado, sem interrupções, sem crianças pra cuidar, etc. Se fizer tudo isso, ainda sim será difícil. Portanto, não deixe de adotar nenhuma destas recomendações.
Finalmente, gaste bastante tempo refletindo sobre a sua estratégia. A quantidade de dinheiro disponível para a sua empreitada é um divisor de águas na formulação da estratégia. Veja o porque.
Se um rendimento de 5% a.m. sobre o seu capital for suficiente para manter o seu padrão de vida e ainda sobrar um pouco para reinvestir e permitir o crescimento gradual do capital, operar exclusivamente Swings (veja a coluna anterior para a definição) seria uma ótima estratégia pro seu caso. Um rendimento médio de 5% a.m. sobre uma carteira de Swing é uma meta perfeitamente razoável. E o Swing, por demandar menos tempo de acompanhamento do mercado, deixará mais tempo para os estudos, o que é importantíssimo no início.
Se um rendimento de 5% sobre o seu capital disponível não chegar nem perto do que o seu padrão de vida exige, não adianta ficar só no Swing. Não adianta querer renumerar uma carteira de Swing a 15% a.m. É uma meta ousada demais. Você fatalmente terá que operar Day Trade (DT), em paralelo com os Swings. E como DT com ações requer um bom capital (que é justamente o que você não tem), a saída é operar no mercado futuro, através dos mini contratos da BM&F. Como se trata de um mercado alavancado, a atenção dada ao sistema de controle de risco terá de ser ainda maior. Comece operando com um contrato apenas, e vá aumentando o número de contratos gradualmente, conforme os ganhos forem surgindo. Por exemplo, uma meta de 5.000pts por mês operando mini IBOV é uma meta razoável. Se você começar operando com um contrato e for aumentando de um em um, a cada 5.000pts, você limitará bastante as prováveis perdas iniciais, e só começará a correr risco maior quando já estiver calejado. Para se ter uma idéia, se esta meta for atingida durante dez meses, partindo inicialmente de um contrato, ao final deste período o seu ganho mensal será de R$10mil/mês. Além dos DTs, retire do seu capital o montante necessário para operar os contratos e, com o restante, monte uma carteira de Swing. Não deixe de retirar uma parte dos seus ganhos nos DTs para aplicar na sua carteira de Swing. Renumeração a 5% a.m. faz o capital crescer rapidamente. Não menospreze o Swing, não importa o quão bem você se saia nos DTs.
Como eu disse, acredito que quem chega ao ponto de poder se dar ao luxo de levar adiante esta tentativa deve ser um profissional muito bem sucedido. Como tal, tenho certeza que sabe a importância do planejamento para o sucesso de qualquer atividade em qualquer área de atuação. Na bolsa não é diferente. Planeje a sua jornada em detalhes: cronograma de estudo, planilhas de controle das simulações, das operações reais, metas virtuais e reais, enfim. Planeje tudo que puder imaginar. E boa sorte